"Esta poderá ser a última vez que te escrevo, ou talvez não. Não tenho mais papel nem tinta e nem modo de os poder arranjar enquanto estiver nesta terrível situação."
"Espero que a minha vida e o meu sofrimento, não tenham sido em vão assim como o de milhares de judeus injustamente sacrificados neste verdadeiro holocausto."
"Se conseguir sobreviver a esta antecâmara da morte pretendo relatar em livro a mais vil história de crueldade, ódio intolerância e racismo jamais vivida pela humanidade"
Infelizmente ela não sobreviveu para contar, mas ainda existem amigos de Anne vivos. Um deles mora no Brasil e conta sobre o holocausto em palestras.
Última vez que Anne escreveu em seu diário:
“Sou partida em duas. Um lado contém minha exuberância, minha petulância, e etc. Meu outro lado costuma ficar à espreita para emboscar o outro, que é mais puro, mais profundo e melhor. Ninguém conhece esse meu lado melhor, e é por isso que muita gente não me suporta. Ah, eu posso ser uma palhaça, engraçada por uma tarde, mas depois disso todo mundo se enche de mim por um mês. Na verdade, sou aquilo que um filme romântico representa para um pensador profundo — uma simples diversão, um interlúdio cômico, algo a ser logo esquecido: que não é ruim, mas que particularmente não é nada bom. Odeio ter que dizer isso, mas meu lado mais leve, mais superficial, sempre vai tirar desvantagem do lado mais profundo, e com isso vencerá sempre. Ninguém pode imaginar quantas vezes eu já tentei empurrar para longe esse meu lado superficial, derrubá-la, escondê-la. Mas isso não funciona, e sei por quê. Tenho medo de que as pessoas que me conhecem descubram que tenho outro lado, um lado melhor e mais bonito. Tenho medo de zombarem de mim, de pensarem que sou ridícula e sentimental, e de não me levarem a sério. Estou acostumada a não ser levada a sério, mas somente o meu lado leve consegue lidar com isso; o meu lado mais profundo é fraco demais. Se eu forçar o meu lado bom e sensível a aparecer por 15 minutos, ela se fecha como um marisco no momento em que é chamada a falar, e deixa o meu lado numero um dizer o que eu sinto ou até mesmo um texto. E antes que eu perceba ela desapareceu. Assim, esse meu lado nunca é visto acompanhado. Ele nunca aparece, ainda que quase sempre assuma o palco quando estou sozinha. Sou exatamente como gostaria de ser, como sou… por dentro […] Sou guiada pelo meu lado puro, o de dentro, mas por fora sou apenas um animal preso, forçando a corda à qual está amarrado. […] Uma voz dentro de mim soluça: “Veja só, foi nisso que você se transformou. Está rodeada por opiniões negativas, olhos desanimados e rostos zombeteiros, pessoas que não gostam de você, e tudo porque não escuta o conselho da tua parte melhor.” Acredite, eu gostaria de escutar, mas não dá certo, porque, se eu ficar quieta e séria, todo mundo acha que estou representando outro papel e tenho de me salvar com uma piada; nem estou falando da minha família, que presume que estou doente, me enche de aspirina e sedativos, sente meu pescoço e minha testa para ver se estou com febre e me critica por estar mal humorada, até eu não aguentar mais, porque quando todo mundo começa a me chatear, fico irritada, e depois triste, a parte má do lado de fora e a boa do lado de dentro, e tento achar um modo de me transformar no que poderia ser e no que gostaria de ser se… se não houvesse mais ninguém no mundo.”

Memorial de Anne Frank

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