Nanette Blitz é uma sobrevivente do holocausto e também era uma das melhores amigas de Anne Frank, que não sobreviveu.
Após ter presenciado várias mortes e ser uma das sobreviventes, dona Nanette resolveu mudar o rumo da sua vida, esquecer as coisas ruins e trazer as coisas boas do passado para um futuro promissor. Nanette estava disposta a mudar, e, essa força de vontade foi o ingresso para a fama que possui atualmente. Ela realmente deu a volta por cima e hoje vive no Brasil, fala mais de 4 idiomas e escreve livros. Um de seus livros foi publicado e é realmente emocionante:
Em uma entrevista a revista Exame, Nanette conta como foi seus últimos momentos com sua amiga Anne e um pouco sobre o holocausto:
70 anos depois, sobrevivente do Holocausto narra a sua vida
EXAME.com – Como era a sua vida antes da guerra? Quando foi que vocês perceberam que as coisas estavam mudando na Holanda?
Nanette – Era uma vida normal. Em 1940, os alemães invadiram a Holanda, que até então imaginou que ficaria neutra durante a guerra. Dias depois, ao vê-los marchando pelas ruas, olhei para os meus pais e percebi que nossas vidas mudariam do dia para a noite. Sabíamos da antipatia perante a comunidade judaica, mas não imaginávamos o que nos esperaria.
EXAME.com – Em 1943, sua família foi levada para Westerbrok. Como se sentiu ao pisar lá pela primeira vez?
Nanette – Westerbrok era um campo de transição que era pura enganação. A vida lá era insuportável. E pensávamos que para onde quer que fôssemos deportados, a situação seria a mesma. A comunidade já estava a par dos campos de extermínio e ninguém acreditava que seria levado para um campo de trabalho forçado. Porém, ninguém sabia como eram estes lugares na realidade.
EXAME.com – Vocês chegam ao campo de Bergen-Belsen em 1944. Neste ponto, vocês imaginavam o que lhes aguardava daquele momento em diante?
Nanette – Ao chegar à estação de trem percorremos todo o caminho até o campo a pé. E esse trajeto era acompanhado de cães raivosos, treinados para atacar, e guardas igualmente agressivos. Era uma repressão tremenda, então já tínhamos uma ideia do que aconteceria.
EXAME.com – Como era o seu dia a dia no campo?
Nanette – Não tinha dia a dia. Em casa, você acorda, vai ao banheiro, toma o seu café da manhã. Lá, não tínhamos nada disso, apenas latrinas. Às vezes, eu passava horas em pé, ouvindo ameaças e apenas aguardando o fim da contagem.
EXAME.com – Depois de todo esse tempo nessa situação, como foi o reencontro com Anne Frank, um rosto conhecido?
Nanette – Sei que ela chegou ao campo em novembro de 1944 e eu não podia me aproximar, pois estávamos em locais diferentes. Nessa época, Bergen-Belsen não podia alojar mais ninguém, então passaram a armar tendas e separá-las com arame farpado. As vi (Anne e sua irmã Margot) pela primeira vez em janeiro de 1945, mas não pude me aproximar.
Um dia removeram os arames. Nessa época, eu sabia de deportações de prisioneiras e também sabia que Anne e Margot estavam debilitadas demais para serem levadas de lá. Então procurei por elas e encontrei Anne enrolada em um cobertor, pois já não aguentava mais os piolhos nas roupas. Ficamos muito emocionadas.
Sobre o tempo antes dos campos, Anne me contou a respeito do esconderijo onde viveram e como não podiam fazer qualquer barulho. Isso deve ter sido um tormento para ela, que era uma menina muito vivaz. Ela já não era a mesma Anne de antes e eu não era a mesma Nanette. Havíamos passado por muita coisa.
Ainda as vi em uma barraca para doentes, mas não estava lá quando morreram, em março. Uma pena, pois em 15 de abril os britânicos entraram no campo. Elas não tinham chance de resistir, como muitos. Sou uma exceção. A Holanda tinha 141 mil judeus antes da guerra e apenas cinco mil voltaram. E sou uma dessas pessoas. Então, você pode perceber que eu não deveria estar aqui hoje.
EXAME.com – Como foi o momento em que os britânicos entraram no campo em 15 de abril de 1945?
Nanette – Os nazistas não sabiam mais o que fazer com o campo, que estava em uma situação abominável, e queriam trocá-lo por posições melhores para os britânicos, que, por sua vez, não sabiam o que acontecia de verdade no local.
Primeiro entrou a equipe médica, que encontrou uma situação que jamais imaginou. Ora, ninguém imaginava. Anos depois de tudo isso, eu mesma ainda me pergunto como foi que sobrevivi.
Eu pesava 30 quilos. Quando anunciaram a nossa liberdade, eu não tinha forças para ir para canto algum e nenhuma perspectiva. Eu não sabia onde estava a minha mãe ou meu irmão. Não imaginava o que o futuro me traria.
Eu tive tifo depois que os britânicos entraram no campo. Eles tomaram o controle de uma escola nas redondezas para onde levaram quem podiam transferir. Queriam esvaziar o campo, assim como se faz depois de uma batalha: você socorre quem consegue e depois volta para tentar salvar os outros.
Nessa altura, as pessoas tinham formado grupos e não queriam se separar. Mas eu não tinha um grupo, então imagino ter sido uma das primeiras pessoas transferidas. Lembro-me de chegar até a escola, mas não consigo lembrar como isso aconteceu.
EXAME.com – Tentar se reerguer depois de um trauma tão doloroso como esse é algo inimaginável. Como foi o seu processo de recuperação?
Nanette – Foi difícil, mas veja, temos uma palavra em hebraico que é chaim e ela supera qualquer coisa. É a vida que é tão preciosa que você não pode descartá-la. Em agosto 1945, quando soube que era única pessoa da minha família a ter sobrevivido, sem saúde e sem dinheiro, fiquei desesperada. Mas em seguida me dei conta de que tinha que assumir uma vida que eu não queria, mas eu não tinha outra opção.
Claro que levou tempo para me recuperar. Demorou ainda mais, pois parentes que viviam no Reino Unido não permitiam que eu falasse sobre o assunto. Eles viveram uma vida normal. O ser humano não tem um botão para apagar memorias, então tive de assumir tudo isso sozinha. E foi difícil. Tudo foi difícil. Mas é assim mesmo. Não teve outro jeito.
Para ver o resto da reportagem basta acessar: http://exame.abril.com.br/mundo/70-anos-depois-sobrevivente-do-holocausto-narra-a-sua-vida/


ARRASA
ResponderExcluirObg
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ResponderExcluirMulher guerreira,passar por tudo isso que ela passou ,chega a emocionar.
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